Encontramos a Clarisse , em 2004 abandonada na rua apinages com um bilhete que dizia …” meu nome é Clarice tenho 6 anos , minha mãe não pode mais ficar comigo porque esta grávida …” deixamos comida e começamos a procurar um lar temporário , durante uma semana todos os dias passávamos lá e a Clarice aparecia para comer , não conseguimos resgatar no primeiro dia porque era arisca e não confiava em nós ,até que entrou na caixa de transporte e conseguimos pegar , foi castrada e vacinada .Mesmo sabendo que ,estava dentro dos 75% dos animais resgatados da rua que dificilmente seria adotado por ser arisca , medrosa e com mais idade. Mas não tínhamos como abandonar a Clarice. Nossa amiga Marcia se ofereceu para ficar com a Clarice e cuida Dela melhor do que nós
Clarice – das ruas de São Paulo para uma maison francesa
Quando penso na Clarice sinto vontade de chorar de tanto amor que sinto por ela. Tenho três gatos, todos de rua. Mas a Clarice é a minha rainha! Ela foi minha primeira gata. Está comigo há 9 anos, passamos juntas por momentos bons e alguns bem ruins, por isso ela é minha companheira e tenho um amor especial por ela. Clarice foi abandonada na rua dentro de uma cesta acompanhada por uma cartinha contando que sua dona estava grávida e que por isso não podia mais ficar com ela, muito provavelmente aquela velha história da toxoplasmose… Ficou vários dias no mesmo lugar, provavelmente esperando que sua antiga dona a buscasse. Clarice já era adulta. Talvez por isso e pelo estresse e sofrimento que passou nas ruas, era extremamente brava. Dava medo chegar perto dela. Pra colocar ela na gaiolinha foi assustador, parecia uma jaguatirica. Mas a levei pra casa e com o passar do tempo, com os cuidados e com o amor que ela recebeu aos poucos voltou a confiar nas pessoas. Hoje ela é uma jóia, adora colo, ronrona tão alto que atrapalha a televisão, parece minha sombra, onde vou na casa ou no quintal ela está comigo. Mais parece um cachorro. Quando ela acorda e não sabe onde estou mia de um jeito diferente, meio desesperado, sei que ela quer saber onde estou. Chamo e ela vem correndo toda satisfeita. Hoje tenho absoluta certeza de que quem fala que gato não é companheiro é porque nunca teve um. Clarice abriu as portas para outros gatos na minha vida. Primeiro chegou a Luna, ainda bebezinha, caiu do telhado de uma casa em Perdizes (sua mãe morava nesse telhado). Quebrou o “braço” em dois lugares. Foi cuidada e também tratada com amor e carinho. Quem a vê hoje, caçadora, ágil, subindo e descendo das árvores, pulando em cima dos outros gatos pra brincar, nem imagina que ela teve esse problema tão novinha. Algum tempo depois chegou o Gatucho, siamês lindo. Fui morar num condomínio em Louveira, que era um paraíso para a Clarice e para a Luna, elas tinham muita liberdade lá, muito sol e verde. Não demorou muito passaram a ser visitadas pelo Gatucho. Ele ficava vagando pelo condomínio, às vezes alimentado pelo pessoal da portaria. Óbviamente, comecei a dar comida pra ele e ele foi ficando, ficando, e ficou. Uns três anos depois, em 2012, foi o ano da grande aventura. Mudamos para a França. Preparar a viagem dos gatos teve que ocorrer com bastante antecedência, pois tem toda uma regulamentação a ser obedecida para que os animais entrem na Europa. O primeiro passo foi consultar a página do Consulado Francês em São Paulo para ver as exigências para transportar animais domésticos para lá. Tanta exigência e burocracia envolvendo laboratórios credenciados pela União Européia, Ministério da Agricultura no Brasil, veterinário credenciado, etc. Achei mais fácil contratar uma empresa especializada. Entrei em contato com a Universal Pet Brazil, a qual me foi indicada por uma amiga que meses antes usou os serviços deles para transportar uma cachorra e uma calopsita para a Holanda. É de suma importância começar os procedimentos com antecedência, pois uma das exigências é vacinação anti-rábica e realização posterior de exame veterinário comprovando presença suficiente de anticorpos contra o vírus da raiva. Este exame deve ser feito por um laboratório credenciado pela União Européia, e deve ser realizado com no mínimo três meses de antecedência da data da viagem. Em resumo, os procedimento realizados pela Universal Pet Brazil foram: • Implante de microship padrão ISO; • Análise da documentação dos meus amores (carteira de vacinação, laudos e documentos da França); • Aplicação da vacina anti-rábica; • Orientações sobre exigências relacionadas às caixas de transporte e às normas de transportes de pets das diferentes companhias aéreas. • Exame sorológico dos anti-corpos da raiva em laboratório credenciado (com coleta de sangue realizada no mínimo trinta dias após a vacina anti-rábica); • Consulta pré-embarque, emissão de atestado de saúde específico em inglês e em francês; • Medicamento anti-parasitário interno e externo; • CZI (Documento do Ministério da Agricultura) e • Orientações de viagem. O valor cobrado pela Universal Pet Brazil foi de R$830,00 por gato. Restava ainda a parte relacionada ao voo. Os procedimentos de embarque variam dependendo da empresa aérea. Escolhi viajar de Air France. Quando comprei a minha passagem já avisei que meus queridos viajariam comigo. Paguei US$200,00 por bichano. Comprei as caixas de transporte seguindo os padrões da IATA. Além do aspecto segurança do animal e resistência da caixa, é necessário que o tamanho da caixa permita que o animal fique em pé e possa dar uma volta completa. Devido ao tamanho dos meus peludos, eu poderia optar por trazer um junto comigo na cabine de passageiros. Mas para não ser injusta com nenhum deles e também para evitar estresse ainda maior com possíveis miados, cheirinhos desagradáveis e reclamações de passageiros, optei por trazer os três no compartimento de carga. Comprei as caixas na Cobasi. Comprei ainda três bebedores automáticos de água (na Universal Pet). Tratam-se de bocais adaptados para garrafas pet comuns com uma bolina de metal na ponta. Quando os peludos lambem essa bolinha a água sai. Isso deve ser ensinado para os belezinhas. Eu fiquei vários dias passando atum nessa bolinha e dando para eles lamberem. Outra coisa importante é comprar as caixas de transporte bem antes e deixá-las acessíveis para eles entrarem e saírem delas quando quiserem. E com um mês de antecedência comecei a confiná-los dentro das caixas, sempre associando à hora de comer atum. Coloquei o pratinho com atum dentro das caixas. A cada dois ou três dias fui aumentado o tempo de confinamento. Comecei com 5 minutos e cheguei a deixá-los na caixa até o máximo de duas horas. Como eles se acostumaram com as caixas, os veterinários desaconselharam o uso de tranquilizante (Acepram). A Air France também desaconselha, pois em caso de turbulência o gatinho consegue se proteger em vez de ficar sendo jogado de um lado para outro porque está grogue. Meus lindinhos viajaram bem conscientes e espertos. No dia da viagem arrumei cada caixa com um fraldão, uma tapetinho absorvente (aqueles de banheiro), uma camiseta minha para os bichinhos sentirem meu cheiro e um brinquedinho deles (ratinho, passarinho ou bolinha). Não dei comida. O tempo total de confinamento entre sair de casa, embarcar, viajar, desembarcar e chegar na nova casa em Paris foi de aproximadamente 18 horas. Para esse tempo, os veterinários disseram que eles tinham reservas suficientes e também que era melhor para eles não enjoarem. Acomodamos todos no carro, minha querida sobrinha postiça Fernanda nos levou para o aeroporto de Guarulhos. Lá, a Air France tem um balcão especial para o embarque dos peluchos. Preenchi um formulário com meus dados e com os dados de cada bichano. Entreguei toda a documentação dos bichinhos que foi feita pela Universal Pet. Importante: tudo em cópia, os originais devem ficar com você, sempre. Quando entrei no avião, falei pro comandante: “por favor, eu tenho três filhos no compartimento de carga, cuida bem deles”. Ele me respondeu: “eu sei e a temperatura e pressão já estão controlados para que eles fiquem bem durante todo o voo”. Agradeci. Confesso que foi super estressante pra mim. Pensar neles confinados todo esse tempo, sem entender o que está acontecendo e expostos ao manuseio, barulho, sensações estranhas por causa do voo. Rezei antes, durante e depois do voo, pois ainda tinha medo que eles extraviassem. Quando pousamos eu tive que enfrentar uma fila enorme na alfândega francesa. Demorou bastante. Quando consegui sair na área das esteiras de bagagens enxerguei as caixas de meus fofuchos no cantinho. Alguém os colocou lá, todos juntinhos. Quase chorei de felicidade, o pior já tinha passado. Bom, quando falei com eles foi aquele xororô, aquela miadeira, mas vi que eles estavam bem. Detalhe: sair com três caixas de gato e mais uma mala de roupas minha, tive que usar dois carrinhos de aeroporto…..e como “dirigí-los”?, eu estava sozinha. Pedi ajuda para um agente de aeroporto (tipo policial). Ele gentilmente levou um carrinho até a saída do desembarque. Lá, meu futuro marido nos esperava. No carro eles miaram um pouco, mas estavam mais calmos. Cheguei em casa, soltei a turma toda. Minha maior preocupação era a Clarice por ela ser mais velhinha. Para minha surpresa era a que estava melhor. Bebeu água, comeu, xeretou a casa e depois ficou no sofá. Não acreditei. Já com a Luna e o Gatucho demorou mais para passar o estresse. Eles se enfiaram embaixo da cama, estavam amedrontados. Mas entre o segundo e o terceiro dia já estavam praticamente normais. Ufa! Passou e tudo deu super certo. Passados seis meses eles já estão miando em francês! Très chic!
Clarice, Luna e Gatucho encontraram pais que os amam e respeitam. Todos os animais e toda a natureza fazem parte do mesmo universo que os seres humanos. Respeitar os animais e a natureza, assim como cuidar bem deles, é a garantia da existência do futuro para nós os “ditos” seres humanos
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